À terça-feira das 15 às 16,30 ao longo dos meses de Outubro a Julho eu sou estudante e junto-me com uns miúdos e umas miúdas a acrescentar conhecimento na área da literatura e da sua interacção com as outras artes, sejam elas as clássicas das belas artes como a pintura, a escultura e até a arquitectura sejam as consideradas menos clássicas e mais populares como a música e a dança e claro o cinema e o teatro. Claro que a maioria de nós, como miúdos que somos e porque sabemos que não temos exames, não faz os trabalhos de casa (preferem ficar com o que ouvem na sala de aula julgando que ainda têm muita memória) e não são, por essa razão, justos para com o grande esforço que a Professora Catedrática (sim porque é mesmo Catedrática no activo numa Universidade) tem para preparar as sessões. Mas como miúdos que somos – do tempo em que os miúdos ainda eram inocentes e não tinham telemóveis – cultivamos uma relação de conforto e convivência que se tornou mais um grupo recreativo e tertuliano, e algumas vezes excursionista, do que uma Escola e, por essa razão, a Professora no seu íntimo deve pensar “ando aqui com tanto trabalho a perder tempo com estes miúdos e eles não vão a lado nenhum” mas, ao mesmo tempo, também sentirá algum prazer na companhia semanal destes miúdos por vezes irreverentes e malandrecos e, por isso, releva a desconsideração que alguns miúdos têm pelo seu enorme trabalho.
Mas vamos levantar um pouco o véu do que é este lugar e quem são estas pessoas. O local é o Instituto Cultural D. António Ferreira Gomes e está instalado no Centro Paroquial de Cristo Rei, numa zona, dita “in”, da cidade do Porto e não sendo uma Universidade Sénior presta serviço de conhecimento, de cultura e aprendizagem e destina-se essencialmente à dita “terceira idade”. Este grupo de miúdos que compõem o módulo que frequento – e que chumbam todos os anos, por isso andam juntos há alguns anos – são de diversas idades e eu, com quase 77 anos, sinto-me dos mais bébés porque com 80 e muitos anos há alguns miúdos não só Senhoras como Senhores (escrevi assim porque aqui não há dúvidas de género). Mas falta o melhor: temos chefe de turma que não falha uma organização de qualquer actividade no exterior do Instituto. Tudo programadíssimo! E portanto hoje é véspera da última aula do ano lectivo e como portugueses bem formados e cumprindo a tradição vamos ter a aula no exterior, claro que programada pela Professora e pela eficiente Chefe de Turma, com um horário diferente do habitual pois a barriga não aguenta estar vazia até às 15 horas. Agora vou pôr-me a adivinhar: vamos comer, vamos beber, vamos oferecer um ramo de flores à Professora e vamos fazer fotografias e selfies e tudo vai saber bem a todos, isto é, vamos divertir-nos mas…vamos começar a sentir a falta das terças-feiras habituais até Outubro. Não há nomes, nem é preciso…somos um grupo de anónimos que se estimam. Obrigado COMPANHEIROS DE VIAGEM (inclui a Professora) pelos momentos “diferentes” destas nossas vidas. A miudagem desta idade o que quer é boa disposição para suportar a compaixão dos médicos e dos não médicos quando nos dizem: “isso é próprio da idade”. O que é “próprio da nossa idade” é querermos ter espírito de miúdos mas muito responsáveis!!!
