LARES DE IDOSOS
1º não venho falar de política;
2º não sou especialista de nenhuma das áreas técnicas;
3º a minha base é a comunicação social, e
4º assumo que me exponho a agrados e desagrados.
Normalmente uma desgraça faz com que se olhe para o caso, especialmente se se puder acusar alguém, e há esperança que alguma coisa mude para melhor. Logo, paradoxalmente, temos que agradecer que haja desgraças, como quem diz “abençoado” desastre que vai fazer correcções. É triste, mas alguém me desmente? E como na saúde, onde não se investe em prevenção e se gasta (não é investir) na cura ou na manutenção da doença…há sempre desgraças…
Este introito tem a ver com os acontecimentos em que todos lamentamos os mortos dos nossos idosos culpando o “bicho mau” porque os idosos são mais frágeis e têm menos defesas. Pode haver alguma verdade, mas não colhe para a maioria dos desfechos fatais. Há idosos em lares que têm ainda muita vida – e boa – para viver. Idoso não é sinal de frágil, nem de senil, embora o possa ser. Agora “idoso em Lar” é outra coisa e aqui bate muito do que é o carácter do ser humano. E é sobre o carácter do ser humano neste tema que venho falar.
Vou generalizar a minha abordagem. Quem é o idoso que QUER ir para um lar? É, na minha opinião, aquele que já olha para a vida e para a família que tem, e que pensa no conforto ou desconforto que já tem ou que pensa que virá a ter num futuro muito próximo se continuar fora de um lar. Pensando no crepúsculo da vida. Todos os outros vão para o lar “enviados” ou pelas famílias ou pelos órgãos do Estado. A esta análise há que admitir que haverá excepções.
Agora que falamos das entradas dos idosos nos lares vamos falar dos lares e das suas condições e do papel de todos. Vou generalizar e portanto tenho de ressalvar que haverá excepções.
Há lares estatais e lares privados e se nos primeiros a responsabilidade é totalmente estatal, nos segundos a responsabilidade de vigilância e fiscalização é também estatal. Depois há lares legais e lares ilegais, por falta de denúncia ou por fechar de olhos. Mas em todos eles entra um dado importante: o dinheiro, nalguns casos como sobrevivência e noutros como lucro que é preciso obter.
E agora que os dados estão lançados vem o COVID-19.
Os idosos estão no lar, vêm as ordens dimanadas da DGSaúde e ficam proibidas as saídas dos utentes e as visitas sejam de familiares e amigos, criam-se regras sanitárias de isolamentos e desinfecções e estaria tudo a salvo. Até aqui tudo bem.
De repente o COVID-19 começa a infectar os utentes sabendo nós que não houve visitas, que ele não entra pelas janelas e não é criado por geração espontânea. Então como foram infectados os utentes? Onde esteve o cumprimento das regras?
Pois bem o que parece é que até hoje os idosos dos lares eram sobreviventes anónimos que não produzem riqueza e que causam encargos e que estão armazenados em clubes fechados mas que perante a Sociedade, e nela o Estado incluído, eles acabaram o seu ciclo de vida sendo meros sobreviventes. E assim esses clubes fechados só são notícia quando há um escândalo qualquer. O que eu penso do COVID-19 nos lares de idosos é que descobriu a “careca” que ninguém – nem sequer os familiares, nalguns casos – quis descobrir antes, salvo raras excepções. Quantos lares têm tudo em conformidade? Quantos lares têm pessoal com formação técnica e de valor afectivo? Não é tarefa fácil a de um trabalhador de um lar e se não houver amor ao que se faz não há bom trabalho. Quando o Estado subsidia mas não fiscaliza o seu funcionamento, e às vezes nem as contas fiscaliza, este estado de coisas não mudará. Resumindo para não me alongar, quem tem culpa neste caso: o ESTADO porque não tem meios para gerir este assunto e não valoriza a Vida humana só porque é idoso – esquecendo o que produziu na vida activa – as ENTIDADES PROPRIETÁRIAS dos lares – as legais e as ilegais – porque visam em primeiro lugar o lucro da exploração, e muito importante, e para mim o mais grave, a FAMÍLIA do idoso que, por inércia ou por medo de represálias sobre o seu familiar, não denunciam tudo aquilo que vêm para os jornais e para as televisões denunciar que já se passavam há muito tempo atrás e calaram até ao “desastre”.
Uma vida humana seja de bébé, de jovem, de activo ou de idoso é uma VIDA HUMANA e como tal devia estar no coração e no dia-a-dia de todos, mas infelizmente…
Se algum dia o Covid-19 acabar a situação volta a ser mesma provavelmente na maioria das instituições como vem sendo hábito noutras desgraças.
Nota final: Todas as generalizações têm excepções e com este texto não quero ofender ninguém de nenhuma Instituição em particular mas também não podemos olhar para os casos de todos os dias de antes e de durante o Covid-19 e ficar a olhar para o céu.
NOTA FINAL – Comecei a escrever este texto há um mês e hesitei muito em publicá-lo, alterei-o muito pouco desde essa data, e não quero com ele ofender ninguém. É só uma constatação triste.