A língua portuguesa prega-nos cada “partida” que umas vezes nos deixa alegres e outras vezes deixa-nos tristes. De facto com a “partida” de uma antiga amiga eu fiquei muito triste como escrevi. Mas com a “partida” de um familiar para mais uns tempos de estadia no estrangeiro eu fiquei contente porque ele foi para onde gosta de estar. A primeira “partida” não tem retorno e a segunda felizmente todos desejamos que tenha.
Mas não foi sobre esta “partida” que eu tive intenção de escrever e também não foi por ter visto qualquer coisa “partida” que me motivei. Mas vou ser directo ao que me levou a escrever hoje. Podem crer que à “partida” foi um acaso que me surgiu pela frente no fim de almoço de pasteis de bacalhau feitos em casa. Que bem me souberam e claro está que foram acompanhados por um branco alentejano bem fresquinho que já vinha de refeições anteriores. Era da Vidigueira, cujo 1º Conde foi o grande navegador Vasco da Gama, e estava eu a navegar a bela refeição e olhei para o rótulo da garrafa e dizia em letras gordas: Vila dos Gamas. Estava certo, Vila dos Gamas, Vasco da Gama, Conde da Vidigueira e Adega Cooperativa da Vidigueira. Quando no fim da refeição ia servir mais um pouco do líquido já só havia o sólido – a garrafa – o que foi uma “partida” já anunciada mas que eu não tinha visto. Porque, como nos contratos de seguros, bancos, etc. há sempre as letras gordas e depois umas letras muito pequenas que nos pregam “partidas”, também no rótulo da garrafa as gordas diziam Vila dos Gamas mas depois as pequenas diziam Ato II “A Partida”, e só quando as li percebi que à “partida” a garrafa estava cheia e não li, e agora à “chegada” li “A Partida” em letras pequenas e a garrafa estava vazia. Quando abrir outra garrafa vou ler o rótulo todo para não ter outra “partida” como esta em que me deu vontade de ver a garrafa “partida” no vidrão. Que todas as “partidas” das nossas vidas sejam como esta que o branco alentejano da “Vidiguéra” me pregou.
